Aos 6 meses de vida a maioria dos lactentes saudáveis já apresenta uma maturidade neuropsicomotora para iniciar a introdução de outros alimentos além do leite materno ou fórmula infantil, a chamada Alimentação Complementar (AC). Neste contexto a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Ministério da saúde (MS) têm orientações publicadas contendo informações abrangentes sobre o processo de início da AC, tanto do ponto de vista nutricional como comportamental.
Além das recomendações publicadas oficialmente por comitês profissionais, há outras abordagens de AC sendo difundidas pela internet, como o Baby-Led Weaning (BLW) que significa: Desmame Guiado pelo Bebê.
Livros sobre o BLW já foram publicados em mais de 15 idiomas e o tema alcança grande popularidade entre pais do mundo todo. Porém, os profissionais de saúde e sociedades da Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos não recomendam oficialmente o BLW devido a questionamentos que ainda não foram respondidos, como:
• Há impacto sobre o crescimento e o desenvolvimento?
• A ingestão de micronutrientes é suficiente?
• Influencia a formação dos hábitos alimentares?
• Influencia o comportamento dos pais/cuidadores?
• É um método de alimentação complementar viável para os pais?
• É uma forma segura de alimentar os lactentes? Há maior risco de engasgo e asfixia?
Assumindo os grandes questionamentos dos pais e dos profissionais de saúde relativos ao BLW, como risco de engasgo, e de baixa oferta de ferro e de calorias, um grupo de estudiosos neozelandeses criou uma versão chamada Baby-Led Introduction to SolidS (BLISS): Introdução aos Sólidos Guiada pelo Bebê.
Em comparação ao BLW, o BLISS apresenta orientações semelhantes. O importante é ressaltar que não há evidências de que o método tradicional com colher seja menos estimulante ou menos importante, desde que sejam seguidas as orientações da SBP, do MS e da OMS, tanto do ponto de vista nutricional como comportamental.
Dentre os motivos pelos quais o BLW ganha popularidade destaca-se a importância dada pela idealizadora sobre a individualidade de cada lactente e seu ritmo, enfatizando as habilidades natas e o empoderamento dos pais em reconhecer em seus filhos seus próprios sinais; porém, estas questões comportamentais também devem ser trabalhadas com a AC com a colher, na forma tradicional.
Ressalta-se, ainda, que desde o início da AC é importante que essa seja junto com as refeições em família, incentivando a interação entre os membros da casa. Nesta fase, é de suma importância que os pais sejam orientados a ser o exemplo de hábitos alimentares saudáveis e a munirem-se de paciência, respeitando os limites impostos pela baixa idade, sempre agindo como facilitadores no processo de alimentação, proporcionando um ambiente tranquilo sem a utilização de estratégias coercitivas ou punitivas.
Reconhece-se que no momento da AC, o lactente pode receber os alimentos amassados oferecidos na colher, mas também deve experimentar com as mãos, explorar as diferentes texturas dos alimentos como parte natural de seu aprendizado sensório motor. Deve-se estimular a interação com a comida, evoluindo de acordo com seu tempo de desenvolvimento.
Segundo alguns estudos, crianças do grupo BLW foram mais propensas a comer com a família no almoço e jantar; tiveram maior ingestão de gordura e gordura saturada; e menor ingestão de ferro, zinco e vitamina B12 que crianças do grupo TSF (forma tradicional com a colher).
Não há evidências e trabalhos publicados em quantidade e qualidade suficientes para afirmar que os métodos BLW ou BLISS sejam as únicas formas corretas de introdução alimentar. As orientações fornecidas pelos autores são coerentes com o desenvolvimento infantil, mas limitar um processo complexo a uma única abordagem pode não ser factível para muitas famílias, e, portanto, não pode ser endossado – como forma única de alimentação infantil – pelo Departamento de Nutrologia da SBP.
A seguir, um resumo de cada um dos métodos:
Forma Tradicional:
• A alimentação é oferecida na colher (mas recomenda-se que o lactente também experimente com as mãos, explore as diferentes texturas dos alimentos como parte natural de seu aprendizado sensório motor, devendo-se estimular essa interação com a comida, evoluindo de acordo com seu tempo de desenvolvimento);
• Todos os grupos alimentares devem ser oferecidos a partir da primeira papa principal;
• A refeição deve ser amassada, sem peneirar ou liquidificar, evoluindo a consistência dos alimentos de forma gradual conforme seu desenvolvimento;
• O ritmo da criança deve ser respeitado, de acordo com o desenvolvimento neuropsicomotor;
• A alimentação complementar complementa o leite materno e não o substitui;
• Deve-se incentivar a criança a comer nos horários de refeições da família;
• Atenção especial às práticas comportamentais, posturais e ambientais.
BLW (Baby-Led Weaning):
• Os alimentos complementares são ofertados em pedaços, tiras ou bastões;
• Sua abordagem não inclui nenhum método de adaptação de consistência para preparar a refeição do lactente, como amassar, triturar ou desfiar;
• Defende o uso de alimentos in natura, desencorajando a alimentação do lactente realizada na forma tradicional (como papinha ou purês);
• Encoraja os pais a confiarem na capacidade nata que o lactente possui de autoalimentar-se;
• Defende continuar com o leite materno ou a fórmula infantil;
• Orienta posicionar o lactente sentado para se alimentar;
• Estimula que o lactente se suje e interaja durante as refeições;
• Orienta interagir com o lactente quando ele estiver comendo junto, durante as refeições;
• Defende oferecer uma variedade de alimentos, evitando a monotonia;
• Defende dar o tempo necessário para a refeição, sem pressionar.
BLISS (Baby-Led Introduction to SolidS):
• Oferecer alimentos cortados em pedaços grandes, que o lactente consiga pegar sozinho;
• Garantir a oferta de um alimento rico em ferro em cada refeição;
• Ofertar um alimento rico em calorias em cada refeição;
• Oferecer alimentos preparados de uma forma que reduza o risco de engasgo e evitar os alimentos listados como alto risco de aspiração;
• Experimentar sempre o alimento antes de oferecer ao lactente, para verificar se não forma um bolo dentro da cavidade oral;
• Evitar alimentos redondos ou em formato de moedas;
• Garantir sempre que o lactente esteja sentado, ereto e sob supervisão contínua de um adulto.
Converse com o seu pediatra para que juntos possam escolher o método mais adequado de acordo com os seus desejos e a realidade da sua família!
📝Fonte: Guia Prático de Atualização – “A Alimentação Complementar e o Método BLW” – Departamento de Nutrologia da SBP.
Dra. Anna Carolina da Fonseca
Médica Pediatra
Alergia e Imunologia
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